Sou CEO há 14 anos e pai há quatro. Se estar à frente de uma companhia é algo que mudou minha carreira, ter uma filha ressignificou minha vida. E, ao contrário do que muitos possam pensar, essas duas experiências não são isoladas, mas interdependentes.
Um CEO tem muito a aprender com um pai.
A começar pela capacidade de trabalhar sob pressão. Trimestres, relatórios e rodadas de investimento podem ser assustadoras, mas um pai já está acostumado com o peso da responsabilidade. Em geral, o sustento do lar passa pelas suas mãos. Ao fim de cada dia, ele também tem contas a prestar, metas a cumprir e “stakeholders” com os quais precisa se preocupar.
Afinal, o que são prazos de entrega para um pai acostumado a gerenciar as contas do mês?
Além disso, pais – e ressalto que estou falando de modo geral, afinal cada pai é um pai, e possui sua própria realidade – tendem a valorizar cada pequena evolução de seus filhos. Uma nova habilidade. Um gol no futebol. Um passo no balé. Uma boa nota. Um bom comportamento. Essa atenção aos detalhes pode ser extremamente útil a um CEO que deseja desenvolver um relacionamento saudável, frutífero e desenvolvedor com seus colaboradores.
Um líder que enxerga sua equipe com olhos de pai tende a valorizar esforços, reconhecer mudanças e identificar, de forma empática e proativa, pontos que necessitam de evolução.
Por fim, cabe resgatar a máxima de que “pais criam seus filhos para o mundo”. Eles gostam de vê-los crescer. Vibram com suas conquistas. Nenhum pai (ou ao menos nenhum pai emocionalmente saudável) tem a intenção de esconder seus filhos ou restringi-los ao próprio casulo. Pais gostam de ver seus filhos serem notados, aplaudidos e conquistando seus objetivos. Todo este sentimento não seria ideal para a liderança de uma companhia?
Para um CEO, o sentimento de “dono” sempre será inferior ao sentimento de pai. Donos pensam em manutenção; pais pensam em desenvolvimento. Donos se agarram ao status quo; pais perguntam aos filhos como foi o seu dia na expectativa de ouvir novidades. Donos comandam estruturas; pais orientam pessoas.
Pessoalmente, sou CEO há 14 anos, mas os últimos quatro foram especiais, não por causa de alguma mudança organizacional, mas pela chegada da minha pequenina Kiara. Ela não sabe, mas inspira de alguma forma tudo que faço pela minha companhia.
Ser pai aprimora o CEO que existe dentro de cada um de nós.
* Ulisses Cardinot é CEO da International School, o maior e mais premiado programa bilíngue do Brasil.
